Analgesia Controlada Pelo Paciente: Relato de Experiência na Prática
23 de maio de 2023
Nada nos faz recordar tanto nossa fragilidade como humanos quanto a dor. No ambiente hospitalar a dor vem potencializada por fatores como ansiedade, medos e pela própria rotina hospitalar, que devido ao grande número de procedimentos dolorosos invasivos e não invasivos a que os pacientes são submetidos durante sua internação, tornam-se um importante gerador de estresse, ansiedade e dor. Não é a toa que o método de analgesia controlada pelo paciente tem sido aplicado de forma mais recorrente nos pacientes.
Nesse contexto, vamos destacar um relato de experiência muito importante de Kaline Vecchio, paciente de 33 anos, que aborda essa temática. Continue a leitura e saiba mais sobre analgesia controlada pelo paciente!
A dor como quinto sinal vital
Todo paciente tem o direito ao manejo adequado da dor, além de ser considerado um critério assistencial de qualidade. Quando não tratada, a dor influencia de forma negativa a evolução clínica do paciente, acarretando alterações cardiovasculares, imunológicas, trombolíticas, psicológicas, sociais, alterações do sono ou a sua própria cronificação.
Associações americanas a partir do ano 2.000 preconizam que a dor deve ser avaliada de forma padronizada juntamente com os demais sinais vitais. Dessa forma estabeleceu-se a dor como quinto sinal vital. Logo, os gestores precisam incentivar e acompanhar a equipe de saúde em relação à efetiva implantação da dor como sinal vital, visando a um cuidado humanizado ao amenizarem sofrimento muitas vezes controlável.
As bombas PCA, por exemplo, revolucionaram o campo do tratamento da dor. Elas se tratam de um dispositivo eletrônico programável que pode ser adaptado às necessidades do paciente. Na PCA, o paciente tem mais autonomia no seu controle de dor. Uma infusão de base predefinida do analgésico é administrada e complementada com recargas ao pressionar um botão, em intervalos predefinidos. Assim o aparelho traz uma maior sensação de controle ao paciente e melhora seu bem-estar geral.
Afinal, estimular, capacitar e envolver o paciente em todas as etapas de decisão sobre sua saúde, o coloca no centro do cuidado, trazendo maior empoderamento nas etapas de sua recuperação.
"Engajar o paciente é um objetivo que precisa ser tratado como prioridade nas instituições, a fim de construir um sistema de maior qualidade e eficácia. A postura proativa do paciente permite que os atendimentos sejam personalizados de acordo com as individualidades de cada um".
Objetivo do trabalho e metodologia usada
O objetivo deste trabalho foi relatar a experiência da paciente no gerenciamento da dor aguda, através da utilização da bomba de PCA, descrevendo benefícios físicos e emocionais da sua utilização. Além disso, a construção deste trabalho também busca demonstrar a importância do cuidado centrado no paciente, estimulando uma relação ativa, empática, humanizada, e com foco no empoderamento e envolvimento do paciente no seu processo de cura.
Quanto a metodologia utilizada, pode-se afirmar que se trata de um relato de experiência, descrevendo a vida de uma paciência que fez uso da bomba de PCA para controle de dor aguda pós-operatória, decorrente de uma cirurgia abdominal de emergência e posteriormente a um longo período de internação na Unidade de terapia Intensiva (UTI).
Relato de experiência: todo paciente tem o direito ao manejo adequado da dor
Kaline Vecchio, paciente de 33 anos, teve como indicação clínica a utilização da analgesia controlada pelo paciente ou PCA, para controle de dor aguda pós-operatória (Score de 10) até então não sanada através de outros métodos tradicionais de analgesia, insuficientes para alcançar um nível tolerável de conforto perante ao quadro álgico.
Segundo Kaline, a possibilidade e a disponibilidade da utilização da analgesia controlada pelo paciente ou bomba de PCA de acordo com as suas necessidades e nos momentos em que ela julgava adequado ou imprescindível, trazia uma enorme sensação de segurança, principalmente nos momentos onde as próprias palavras eram insuficientes para descrever ou mensurar o nível de dor à equipe assistencial, que apesar de toda experiência e empatia, não eram capazes de compreender a dor, muitas vezes pela impossibilidade dela se comunicar verbalmente ou com clareza.
A utilização da analgesia controlada pelo paciente ou bomba de PCA trazia para a paciente um alívio imediato e era capaz de manter a dor em um nível tolerável, estimulando conforto físico e emocional e uma enorme sensação de empoderamento, já que a paciente passa a ter autonomia sobre o seu próprio cuidado. O controle permitiu inclusive que a paciente fizesse uso de doses de forma preventiva, antes de procedimentos dolorosos como exames, curativos ou fisioterapias, tornando-a menos reativa a tais momentos, e aderindo melhor aos tratamentos propostos pela equipe assistencial.
Parte da sensação de empoderamento dada à paciente, foi em função do envolvimento e encorajamento por parte da equipe assistencial sobre a situação clínica e sobre a importância das ações da mesma e dos seus familiares perante aos desafios vivenciados ou que estavam por vir. Informações sobre a indicação da bomba, seu correto manuseio, seus riscos e benefícios, trouxeram para a paciente maior tranquilidade para aderir à sua utilização, bem como, menor ansiedade perante as situações de dores, maior otimismo quanto a cura, sensação de felicidade e maior engajamento ao tratamento. O simples fato da paciente ter em mãos o botão da bomba a fazia enxergar tudo sob uma ótica mais positiva e segura. Literalmente o paciente no centro do seu cuidado.
Principais Pontos
O tratamento da dor de difícil controle com o emprego da tecnologia se faz indispensável para evitar o sofrimento do paciente, melhorando sua experiência e emponderando-o perante o processo de cuidado. Confira alguns dos benefícios alcançados:
- A utilização da bomba de PCA proporcionou para a paciente uma melhora significativa na qualidade e conforto do quadro álgico pós-operatório;
- Aumentou o nível de segurança e diminuiu a ansiedade da paciente nos momentos onde existia uma dificuldade ou mesmo impossibilidade em descrever, expressar ou mensurar o seu nível de dor à equipe assistencial;
- O uso da bomba de PCA trouxe para a paciente um comportamento mais confiante e empoderado perante a própria dor devida a capacidade de controlar a analgesia de acordo com as suas necessidades e levando em consideração a intensidade da dor que ela estava vivenciando naquele exato momento;
- Colocou a dor em um papel secundário, permitindo ao paciente vivenciar o luto da perda perinatal, o afastamento prolongado dos familiares e a luta diária enfrentada pelo próprio desgaste da rotina cansativa da UTI;
- A possibilidade da utilização preventiva anteriormente à procedimentos dolorosos, que geravam na paciente dores, medos e angústias, permitiu uma preparação anterior tornando-a mais disposta e proativa quanto ao tratamento proposto pela equipe assistencial;
- O simples fato da paciente ter em mãos o botão da bomba de PCA trouxe uma enorme sensação de segurança e controle sobre o seu papel quanto à saúde. A paciente se sentia respeitada quanto pessoa e com voz ativa, mesmo em uma situação de tamanha fragilidade.
Autora: Kaline Maria Ceolin Vecchio Pires