O parto como uma experiência positiva pela mulher
19 de abril de 2022
O parto como uma experiência positiva pela mulher. O trabalho de parto e o parto podem ser experiências benéficas, transformadoras e de realização para a mulher. Mesmo que nem tudo aconteça conforme idealizado, ainda é possível que a mulher sinta que vivenciou uma experiência positiva de parto, quando suas necessidades são atendidas.
O psicólogo americano Abraham Maslow definiu cinco categorias de necessidades humanas: fisiológicas, de segurança, social, autoestima e as de autorrealização. Essa teoria é representada por uma pirâmide. Segundo Maslow, uma pessoa só sente o desejo de satisfazer a necessidade de um próximo estágio se a do nível anterior estiver sanada.
Portanto, a motivação para realizar esses desejos vem de forma gradual:
- Na base da pirâmide estão as necessidades mais básicas, diretamente relacionadas à sobrevivência. Por isso, são chamadas de necessidades fisiológicas.
- Logo acima vêm as necessidades relacionadas à segurança. Esse patamar reúne todas as formas de sensação de proteção e a garantia de que situações fora do controle da pessoa poderão ser solucionadas.
- Depois da segurança vem a necessidade social. Ela tem a ver com identificação, aceitação, intimidade e afeto.
- Acima dela está a necessidade de estima, ou seja, de ter o próprio valor reconhecido. Esse patamar está ligado a respeito, confiança e realizações.
- No topo da pirâmide estão as necessidades mais complexas e íntimas de cada ser humano. As necessidades de autorrealização têm a ver com autoconhecimento, liberdade, autossuficiência, autenticidade e ater-se aos próprios valores.
Hierarquia das necessidades da mulher no parto e a obtenção de uma experiência positiva de parto
A Pirâmide de Maslow é utilizada em diversas áreas de conhecimento, e se encaixa também nas necessidades da mulher para uma experiência positiva de parto.
Na hierarquia das necessidades no parto, mãe e bebê saudáveis estão na base da pirâmide, e a experiência positiva está no topo, sustentada por todas as outras necessidades: acesso adequado aos serviços de saúde; cuidados baseados em evidências; direito ao acompanhante de escolha; cuidados contínuos, respeitosos e amorosos, centrados na mulher; informação; empoderamento e protagonismo da mulher.
Essa hierarquia deixa claro que uma experiência positiva independe se o parto aconteceu naturalmente, se precisou de alguma intervenção ou se foi por uma cesárea. As necessidades da mulher envolvem outras questões, que podem ser conciliadas com intervenções quando necessárias.
Como a mulher se sente com sua experiência de parto afeta sua saúde física e mental, e interfere em sua ligação com o bebê. Por isso, é muito importante que os profissionais envolvidos com a assistência ao parto tenham como objetivo satisfazer a todas essas necessidades.
Fonte: elaboração da própria autora.
Você conhece o Projeto Parto Adequado?
O Parto Adequado é um projeto criado em 2015 pelo Hospital Israelita Albert Einstein, em parceria com o Institute for Healthcare Improvement (IHI) e com o apoio do Ministério da Saúde, com o objetivo de identificar modelos inovadores e viáveis de atenção ao parto e nascimento que valorizassem o parto normal e reduzissem o percentual de cesarianas sem indicação clínica na saúde suplementar. Sua atuação ocorre através de ações educativas, treinamento e conscientização de profissionais de saúde e pacientes a respeito das melhores práticas assistenciais.
Nas últimas duas décadas, a assistência ao parto foi tomada por um excesso de medicalização e de práticas ineficazes e/ou nocivas para iniciar, acelerar, finalizar, regular e monitorar o processo do parto e nascimento. Tais práticas, quando adotadas sem uma motivação clínica ou de forma rotineira, acabam impactando negativamente na experiência das mulheres, fazendo com que se sintam incapazes de parir e tornando o parto uma experiencia traumática.
Além do excesso de intervenções, cesáreas sem indicação médica também atingiram patamares inaceitáveis e com repercussões negativas a curto e longo prazo, o que motivou a criação do Parto Adequado, que tem contribuído desde sua criação para a diminuição das cesáreas desnecessárias nos hospitais onde foi implantado e da melhoria na assistência obstétrica.
Quer conhecer mais sobre como o parto pode ser vivenciado como uma experiência positiva, de forma segura e centrada na mulher? Confira as recomendações da OMS para assistência ao parto, clique aqui: Parte II.
Andrea Silveira de Queiroz Campos, autora deste conteúdo, é ginecologista e obstetra, integra o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein
Parte I